sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mercado enlouquecido


Assisto de camarote às mais patéticas formas de se ganhar dinheiro com livros usados. Graças ao advento dos portais de venda, o mercado livreiro enlouqueceu!

Com a decadência urbana dos velhos centros comerciais, fenômeno notado em quase todos os grandes centros urbanos brasileiros, a elite econômica e cultural deixou, há anos, de garimpar sebos. Quem os garimpava nos últimos anos eram, na maioria estudantes, curiosos e intelectuais, geralmente sem verba para gastarem com uma primeira edição, quando cobrada dentro de certos padrões, ou deste ou daquele livro cujo proprietário, quando experiente, soubesse que nesta encarnação não se depararia com outro exemplar, por isso taxando a obra de acordo com sua raridade.

Com o advento da internet, alguns sebos, mais tradicionais ou mais visionários, resolveram investir na nova mídia, alguns de forma mais cautelosa, outros apostando todas as fichas. Alguns anos depois, começaram a surgir portais que ofereciam as benesses da democratização do mercado, colocando novos livreiros e seus acervos à disposição dos internautas, por uma certa quantia, em alguns casos envolvendo taxas superiores às pagas pelos pioneiros para manterem seus próprios sites.

Todos ganharam com isso. Os leitores, inebriados com a facilidade de adquirir livros com um toque do mouse, sentados confortavelmente em suas casas, e os livreiros, que finalmente conseguiram desovar estoques e depósitos inteiros abarrotados de livros à procura de clientes há anos.

Mas na esteira dessa revolução vieram os especuladores, e com eles os atravessadores. Os especuladores fartaram-se de comprar de livreiros e de particulares, que, via internet, queimaram livros raros a preço de banana. Um livreiro no Amazonas sabe pouco sobre os preços cobrados em São Paulo por obras escritas sobre a Revolução Constitucionalista no mesmo ano em que ela começou e terminou, 1932. Um particular do Ceará pode não ter a menor idéia, e nem obrigação, de saber quem foi Júlio Frank, e colocar por R$ 40,00 os dois volumes do Resumo da História Universal (Gustavo Barroso, quando escreveu sua História Secreta do Brasil, na década de 30, só conseguiu o primeiro volume!), sem saber que esse livro não só foi um dos primeiros editados em São Paulo, e o primeiro editado sobre o assunto no Brasil, como o seu autor, enterrado nas Arcadas, foi o fundador da "Bucha", que, de certa forma, mesmo que velada, esteve à frente dos acontecimentos políticos brasileiros até o fim da República Velha.

Após esse lauto banquete de queima de livros em praça pública, os especuladores estão aí. Provando cada vez mais o espírito de "quanto mais, melhor", livreiros de diversas partes do Brasil, provavelmente porque depois da orgia ficaram sem estoque, têm cadastrado nesses portais livros que não lhes pertencem, como descobri descuidadamente hoje. Em São Paulo, num dos melhores sebos da capital, que possui diversas lojas no centro, uma coleção de viajantes do século XIX é encontrada à venda por R$ 1.400,00. A mesma coleção, com a mesma descrição e a mesma foto, porém não o mesmo preço, mas sim o dobro: R$ 2.800,00, está sendo comercializada num desses portais de sebos. O vendedor encontra-se bem distante da capital paulista e nunca deve ter visto e nem sabe do que tal obra trata.

A democratização da venda de livros usados e de obras raras pela internet realmente é uma maravilha, principalmente para quem quer descolar uns trocos sem responsabilidade alguma.

Um comentário:

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