segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Revolução, livros e ex-libris?!?!? Como isso combina?

Doação de livros para a Revolução Constitucionalista de 1932

Com certeza pouco ou nada foi escrito a respeito de um plano levado a cabo pelo jornal O Estado de São Paulo durante a revolução de 1932, que buscou, por meio de uma campanha em suas páginas, a doação de livros. O objetivo não era recolher fundos para a causa constitucionalista, afinal já existia uma campanha para isso: “Ouro para a revolução”. Os recursos destinavam-se aos “Orphams da Revolução”.

O resultado foi um acervo muito variado, desde os mais comuns, como a coleção Thesouro da Juventude, aos mais raros, como primeiras edições dos Padres Manoel Bernardes e Antonio Vieira, primeira edição de Os Sertões autografada por Euclides da Cunha e primeiras edições de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, entre outros.

Os livros eram remetidos pelo correio ou entregues na portaria de O Estado de São Paulo, ou ainda remetidos pelo Comando Revolucionário, cujas tropas recebiam as doações nas cidades onde estavam aquarteladas e faziam chegar até a redação do jornal. Algumas cartas que acompanhavam os livros eram assinadas por seus doadores, como os escritores Paulo Setúbal e Cassiano Ricardo, o Cônsul da Lituânia em São Paulo, “pelos jovens” e “pelas jovens” paulistas, cujos pais certamente ditaram as cartas de doação, escritas em corretíssimo português por mãos ainda não muito acostumadas a pegar em um lápis. Outras eram subscritas por: “Um Patriota”, “Paulista Consciente” e diversos outros pseudônimos.

As obras remetidas para O Estado eram numeradas e publicadas em uma seção especial. As pessoas que se interessassem por eles anotavam o número da obra desejada e mandavam o lance por carta, ou indo pessoalmente ao prédio do jornal e deixando o bilhete na portaria. Vencia quem ofertasse o maior valor. Não raro, o doador do livro já mandava na carta de doação um lance inicial pela obra.

O jornal chamou o artista José Wasth Rodrigues para confeccionar o ex-libris dessa campanha. Quem arrematasse uma das obras podia mandar uma carta para a redação, com um envelope já selado para resposta, informando qual livro havia adquirido. O responsável pelo setor então enviava o ex-libris correspondente dentro do envelope recebido.

Os ex-libris foram feitos em três tamanhos: 5 cm X 9,4 cm, 7,4 cm X 12,5 cm e 11,4 cm X 19,4 cm, cada um relativo a um tamanho de livro: in-oitavo, in-quarto e in-fólio. Os ex-libris tinha uma margem branca mais larga nas extremidades superior e inferior e mais estreita nas laterais. Na margem superior, lê-se em letras pretas: “LIVRO DOADO EM BENEFÍCIO / DOS ORPHAMS DA REVOLUÇÃO”. Na margem inferior, os dizeres: “POR INTERMÉDIO DO / O ESTADO DE S. PAULO / Nº..............” No centro do ex-libris, um retângulo amarelo tendo, desenhado em preto, um garoto de pé, vestido com um uniforme de marinheiro, com um espadim de um lado da cintura e do outro um tambor, que segura com a mão direita um mastro feito com bambu. Amarrado na ponta do mastro um pedaço de pano esvoaça por cima do menino; nele constam os seguintes dizeres: “SI FOR PRECISO / NÓS TAMBÉM / VAMOS!”. Na lateral esquerda do garoto, ainda dentro do campo amarelo, a inscrição: “EX- / LIBRIS”.

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