Mostrando postagens com marcador Ex-libris. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ex-libris. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ex-Libris

Algumas pessoas adoram assinar livros, marcando a sua posse sobre ele. Um escritor dizia que a diferença entre um livro assinado e um poste "batizado" por um cachorro era quase nenhuma...

Alguns são partidários de que o ser humano não possui livros, são os livros que os possuem durante um certo tempo. Depois eles passam para outros donos, outras mãos. As histórias, os ensinamentos, as emoções que um livro passa podem ser praticamente eternos se a obra for bem conservada. Uma vida humana diante de um livro é efêmera. Estou olhando agora para um livro publicado em Lisboa, em 1809. Quantas gerações passaram, quantos donos já foram enterrados, e ele continua inteiro, ainda tendo muita história para contar?

Mesmo assim, se você quer organizar a sua pequena ou grande biblioteca e deseja colocar sobre suas obras uma marca de posse, seja ao menos criativo e use um ex-libris!

Ex-libris significa "Dos livros de". Costumam ser pequenas etiquetas impressas que tenham algo a ver com o proprietário dos livros: uma caricatura, um monograma, um brasão de armas, um desenho, enfim, algo que identifique de alguma forma o possuidor daquela biblioteca.

Tecnicamente os ex-libris são classificados em quatro categorias:

1) Etiquetas: não trazem imagens além do nome do proprietário, muitas vezes acompanhado de ornamentos.

2) Armoriados ou heráldicos: quando o motivo principal do desenho consiste de brasões ou insígnias de indivíduos, cidades, associações etc. Ao lado o ex-libris de Sir Arthur Conan Doyle, escritor e pai de Sherlock Holmes.

3) Simbólicos: quando trazem imagens que traduzem idéias, lemas de vida, ocupações etc., que não tenham caráter heráldico. Como exemplo, o ex-libris do ator e diretor Charles Chaplin, acima.

4) Paisagísticos: quando reproduzem cenas rurais, urbanas, marinhas etc. ligadas afetivamente ao possuidor dos livros.

5) Mistos: Quando puderem ser enquadrados em alguma das categorias acima.

Eles são geralmente fixados na parte interna da primeira capa do livro.

Vamos lá, sejam criativos. Hoje em dia até seu personagem favorito, ou você, desenhado em estilo mangá, servem para identificar de uma maneira diferenciada os seus livros dos demais, e no final, quando você emprestar seus livros para seus colegas, duvido que eles não lembraram de devolver a obra quando virem sua marca nele.

Paulo Rezzutti
Sebo Bazar das Palavras

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Revolução, livros e ex-libris?!?!? Como isso combina?

Doação de livros para a Revolução Constitucionalista de 1932

Com certeza pouco ou nada foi escrito a respeito de um plano levado a cabo pelo jornal O Estado de São Paulo durante a revolução de 1932, que buscou, por meio de uma campanha em suas páginas, a doação de livros. O objetivo não era recolher fundos para a causa constitucionalista, afinal já existia uma campanha para isso: “Ouro para a revolução”. Os recursos destinavam-se aos “Orphams da Revolução”.

O resultado foi um acervo muito variado, desde os mais comuns, como a coleção Thesouro da Juventude, aos mais raros, como primeiras edições dos Padres Manoel Bernardes e Antonio Vieira, primeira edição de Os Sertões autografada por Euclides da Cunha e primeiras edições de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, entre outros.

Os livros eram remetidos pelo correio ou entregues na portaria de O Estado de São Paulo, ou ainda remetidos pelo Comando Revolucionário, cujas tropas recebiam as doações nas cidades onde estavam aquarteladas e faziam chegar até a redação do jornal. Algumas cartas que acompanhavam os livros eram assinadas por seus doadores, como os escritores Paulo Setúbal e Cassiano Ricardo, o Cônsul da Lituânia em São Paulo, “pelos jovens” e “pelas jovens” paulistas, cujos pais certamente ditaram as cartas de doação, escritas em corretíssimo português por mãos ainda não muito acostumadas a pegar em um lápis. Outras eram subscritas por: “Um Patriota”, “Paulista Consciente” e diversos outros pseudônimos.

As obras remetidas para O Estado eram numeradas e publicadas em uma seção especial. As pessoas que se interessassem por eles anotavam o número da obra desejada e mandavam o lance por carta, ou indo pessoalmente ao prédio do jornal e deixando o bilhete na portaria. Vencia quem ofertasse o maior valor. Não raro, o doador do livro já mandava na carta de doação um lance inicial pela obra.

O jornal chamou o artista José Wasth Rodrigues para confeccionar o ex-libris dessa campanha. Quem arrematasse uma das obras podia mandar uma carta para a redação, com um envelope já selado para resposta, informando qual livro havia adquirido. O responsável pelo setor então enviava o ex-libris correspondente dentro do envelope recebido.

Os ex-libris foram feitos em três tamanhos: 5 cm X 9,4 cm, 7,4 cm X 12,5 cm e 11,4 cm X 19,4 cm, cada um relativo a um tamanho de livro: in-oitavo, in-quarto e in-fólio. Os ex-libris tinha uma margem branca mais larga nas extremidades superior e inferior e mais estreita nas laterais. Na margem superior, lê-se em letras pretas: “LIVRO DOADO EM BENEFÍCIO / DOS ORPHAMS DA REVOLUÇÃO”. Na margem inferior, os dizeres: “POR INTERMÉDIO DO / O ESTADO DE S. PAULO / Nº..............” No centro do ex-libris, um retângulo amarelo tendo, desenhado em preto, um garoto de pé, vestido com um uniforme de marinheiro, com um espadim de um lado da cintura e do outro um tambor, que segura com a mão direita um mastro feito com bambu. Amarrado na ponta do mastro um pedaço de pano esvoaça por cima do menino; nele constam os seguintes dizeres: “SI FOR PRECISO / NÓS TAMBÉM / VAMOS!”. Na lateral esquerda do garoto, ainda dentro do campo amarelo, a inscrição: “EX- / LIBRIS”.

Por falar no Jornal O Estado de São Paulo...

Um cavaleiro sentado em um cavalo vaga por uma cidade colonial, onde os campanários de duas igrejas se destacam. O que é isso?

É um dos ex-libris mais impressos no Brasil. Figurando há mais de 70 anos nas páginas de O Estado de São Paulo, a marca usada pelo jornal é um bom exemplo de ex-libris simbolista. Ele presta uma homenagem ao primeiro jornaleiro paulistano, o francês Bernard Gregoire, que em 1876 passou a andar vagarosamente com o seu cavalo pelas estreitas ruas de São Paulo de Piratininga, tocando sua corneta e anunciando a venda da edição do dia de A Província de São Paulo, por 40 réis. O jornal A Província viria, anos mais tarde a se transformar em O Estado de São Paulo.

Nos anos 30 do século XX, o artista José Wasth Rodrigues (1891-1957) confeccionaria para o jornal esse ex-libris. Wasth Rodrigues foi um importante pintor e desenhista paulistano do início do século. Seus trabalhos são os mais variados: é autor do desenho do brasão da cidade de São Paulo, em co-autoria com Guilherme de Almeida; realizou as pinturas dos azulejos dos monumentos do antigo Caminho do Mar e do obelisco do Largo da Memória; fez pesquisas históricas e arquitetônicas que deram origem a livros como o Documentário Arquitetônico, ainda hoje editado e o raríssimo Uniformes do Exército Brasileiro, em co-autoria com Gustravo Barroso, além das ilutrações de diversos livros, como a obra de Clóvis Ribeiro: Brasões e Bandeiras do Brasil. Dedicou-se à pintura de óleos e aquarelas, sempre com motivos brasileiros, por conta de seu nacionalismo convicto. Foi considerado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade o maior heraldista brasileiro.

Além de Gregoire, o ex-libris de O Estado de São Paulo retrata também uma paisagem que já não existia mais. A construção às costas de Gregoire é o prédio da antiga Sé de São Paulo, demolido no começo do século passado, e a outra edificação é a antiga Igreja de São Pedro dos Clérigos, igualmente demolida. Para o paulistano localizar-se, nos dias de hoje o prédio da Caixa Econômica, na Praça da Sé, ocupa o lugar da antiga igreja de São Pedro dos Clérigos, e a antiga igreja da Sé tem seu lugar assinalado pela estátua de Anchieta em um canto da Praça da Sé próximo à Rua Direita. É a arte do ex-libris servindo como apoio à memória paulistana.