sábado, 21 de março de 2009

Há uma gota de sangue em cada poema

Após a antologia “13 dos melhores Contos de Vampiros”, editada em 2002, Flávio Moreira da Costa retoma o tema com a organização de “Contos de Vampiros: 14 Clássicos escolhidos”, lançado esta semana pela Editora Agir por meio do selo PocketOuro.

Reparafraseando o organizador da obra, Mário de Andrade estava certo em publicar um livro com o título com o qual abro esta resenha, afinal, o mundo vivia ainda a Grande Guerra quando este lançou, sob o pseudônimo de Mário Sobral, o seu primeiro livro de poesias. Nunca antes a civilização tinha presenciado tamanho morticínio, tamanha violência, tamanho terror real. O terror e o sangue que povoavam a imaginação das pessoas antes disso ainda eram, em parte, causados pelos personagens descendentes da literatura vitoriana: Drácula, Carmilla, Luella e quetais. O que Flávio Moreira da Costa nos apresenta com essa nova antologia são os vampiros primordiais da literatura do gênero Gothic Novel, surgidos ao raiar do século XIX.

A introdução apresenta, de maneira muito competente, o leitor ao tema Vampiros. Passando das cordilheiras do Peru às estepes russas, o autor nos apresenta a ancestralidade e universalidade do tema e a importância do mito que se reinventa esteticamente ao longo dos séculos, passando do monstruoso e assustador Drácula à irresponsabilidade inconsequente do encantador Lestat.

À primeira vista, o que se nota na edição é a falta de uma linha condutora entre os contos, o que seria resolvido simplesmente organizado-os pela cronologia de quando vieram à luz, ou seria às trevas? Fora esse fato e alguns escorregões nas introduções dos contos, a edição supera expectativas ao trazer obras inéditas em nossa língua. Da edição de “13 dos melhores Contos de Vampiros”, estão presentes “O quarto na torre”, de Benson; “A boa senhora Ducayne”, de Mary Elizabeth Branddon; “O Estranho Misterioso”, escrito por um anônimo alemão do século XIX, e “A Morta Apaixonada”, de Theóphile Gautier, mas o imperdível mesmo, para os fãs do gênero, é “O Hóspede de Drácula”, um capítulo inédito não incluso na versão final da obra de Bram Stoker. As novidades ficam por conta de “O Vampiro”, de Polidori, primeiro conto sobre o tema, que partilha seu nascimento com “Frankenstein”, de Mary Sheley, no mesmo castelo, durante a mesma tempestade, além do conto do uruguaio Horácio Quiroga, tido como o primeiro trabalho sobre vampiros escrito na América Latina.

O organizador, como forma de introduzir o leitor a cada um dos quatorze contos, faz uma pequena descrição situando-o a respeito de algumas particularidades, ou sobre o autor, ou sobre a história, ou ainda, como no caso de “O Vampiro”, de Polidori, em que situação a obra foi escrita. Infelizmente existe um erro na introdução de “A Família Vourdalak”. A obra foi escrita em 1839 por Alexei Konstantinovitch Tolstoy (1817-1875), também autor de “O Vampiro”, de 1841, e não por Alexei Nicolaievitch Tolstoy (1883-1945), como afirma o organizador da obra e sobre quem se apoia, biograficamente e bibliograficamente, para introduzir o conto, até então inédito em português.

Para quem gosta de sangue, vampiros e terror clássico, esse realmente é o lançamento do mês. Acompanhado de uma boa pizza de alho, “mais vale prevenir”, é a melhor pedida para essas noites tempestuosas que tem feito aqui em Sampa.

Contos de Vampiros – 14 clássicos escolhidos
ISBN 978-85-61706-57-9
Flávio Moreira da Costa (org.)
PocketOuro
440p.
R$ 19,90

Paulo Marcelo Rezzutti

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