Esta semana estreei no BlogeZ, do site E-Zone, com o post abaixo, já falei aqui a respeito deles em post anteriores, devido a nossa parceira fui convidado a colaborar com eles com posts sobre literatura, livros, etc.
Minha mulher é jornalista e revisora. Outro dia, ela pegou o seguinte erro na revista em que ela trabalha: “Coloque barata palha por cima do frango com catupiry antes de servir”. Óbvio que a autora da matéria queria dizer “batata palha” e não “barata palha”. Por sorte o trabalho de revisão foi feito corretamente, e a receita não provocou arrepios de nojo em nenhum leitor. Mas erros hilariantes são comuns, como o que ocorreu com o nosso último Imperador, que foi visto por um jornalista descendo do navio amparado por “duas mulatas”, ao invés de muletas. Uma antiga rainha de Portugal teve seu título trocado em um jornal por Sua Majestade, a Bainha. Na retificação, no dia seguinte, a emenda ficou pior: “onde lê-se Sua Majestade, a Bainha, leia-se: Sua Majestade, a Tainha”. Em jornais e revistas os erros passam tão rápido quanto suas edições: uma ou duas depois ninguém mais lembra deles. Mas e quando isso não acontece? Principalmente nos livros, onde esses erros acabam tirando o sono de muito escritores e editores?
O primeiro livro a ser impresso pelo sistema criado por Guttemberg, pai da tipografia, foi a Bíblia. Nada melhor do que começarmos a apontar os erros desde o princípio. Um dos mais famosos erros de impressão da Bíblia é um que narra o fato de “Cristo, com cinco mil pães, deu de comer a cinco pessoas”, uma evidente inversão da frase. Outro erro famoso é o de uma bíblia impressa em Hale, em 1710, por Hildelbrand, que trazia o seguinte erro em um dos mandamentos: “Cometerás adultério”. Ainda falando de Bíblias impressas na Alemanha, temos o caso onde o tipógrafo, preparando a edição de uma Bíblia, briga com a mulher. Esta, para se vingar, vai sorrateiramente à oficina e troca duas letras de uma das composições, e ao invés da “Teu marido será teu senhor (dein Herr)”, a frase ficou: “Teu marido será teu bobo (dein Narr)”. Essas Bíblias foram, obviamente, confiscadas pela Igreja, mas, como sempre acontece, algumas acabaram circulando e hoje são disputadas a peso de ouro no mercado de livros raros.
Nas letras nacionais temos uma das erratas mais cômicas da história. No livro “Flor de Sangue”, de Valentin Magalhães, publicado em 1897, a errata adverte: “À página 285, quarta linha, em vez de - estourar os miolos - leia-se cortar o pescoço”.
Machado de Assis, cujo centenário de morte é este ano, não poderia deixar de estar presente neste post, pois é de um livro seu o mais famoso erro tipográfico das letras brasileiras. Já quase no final de sua vida, Machado resolveu reunir todos seus poemas em um livro só, logo intitulado de “Poesias Completas”. Para tal obra, resolveu convidar um amigo, Caetano Filgueiras, falecido antes da publicação, para escrever a apresentação. O amigo rasgou mais seda na introdução produzida do que Machado toleraria, e de pronto este resolveu deixar as palavras do confrade de lado e ele próprio fazer o texto. Pois aí a coisa ficou feia. Machado finalizou a apresentação assim: “Não deixo esse prefácio, porque a afeição do meu defunto amigo a tal extremo lhe cegara o juízo que não viria a ponto reproduzir aqui aquela saudação inicial”. Imaginem a cara do escritor quando pegou seu exemplar recém-impresso e viu que na palavra “cegara” a letra “e” foi trocada pela letra “a” na tipografia. Rapidamente foi recolhida a edição e tratou-se de sanar o problema. Alguns dizem que o próprio Machado passou tardes e tardes no escritório da Editora Garnier corrigindo à mão a maior parte dos exemplares. Outros exemplares tiveram a letra “a” raspada e o tipo “e” batido logo em cima, o que dá para perceber claramente pelo desalinhamento das letras. Ainda existem os que foram vendidos antes que se percebesse o problema e que permaneceram sem correção.
Publicado originalmente em: http://www.ezoneonline.com.br/blogez/2008/29/as-mulatas-do-imperador/
Um comentário:
Olá, povo brasileiro!
Hoje você vai votar.
Vota bem, vota certeiro,
Se não quer vir a chorar,
Por votar no mais matreiro.
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