quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Nunca se publicou tanto no Brasil

Nunca se publicou tanto no Brasil, porém quantidade nunca foi sinônimo de qualidade, haja vista o bombardeio de propaganda nazista que era despejada sobre a população alemã dos anos trinta aos quarenta.

Quando entro em um sebo, daqueles de bairros, que acabam por se tornar depositários de livros acumulados por gerações de vizinhos que morreram, mudaram ou enjoaram dos móveis da sala e optaram pelos atuais que não têm mais espaço para livros (alguém viu em uma Casas Bahia da vida alguma estante para livros?), sempre dá pena de ver prateleiras inteiras lotadas pelos blockbusters de antanho; tão velhos quando essa palavra são os ecos do passado de suas famas. Mais algum tempo e veremos centenas de “Quem roubou o meu queijo”, “Código da Vinci” e outros. As obras de Anne Rice, que fizeram bastante sucesso na metade dos anos noventa, começam a chegar às prateleiras dos sebos, pouco mais de dez anos depois, em quantidade suficiente para suprir os leitores retardatários e sobrar.

Fico pensando na quantidade de livros que estão sendo editados. De acordo com algumas declarações, o mercado editorial esperava esse boom a mais de trinta anos. A questão é que a qualidade literária de uma parte desse boom é de fazer Machado de Assis e os “imortais” saírem na calada da noite do mausoléu do cemitério São João Batista e atacarem a picareta o Petit Trianon.

No segundo semestre de 2007 a Amazon lançou um leitor de e-books, chamado Klinder. Ouvi e li dezenas de reclamações sobre o coitado: o design é feio, ele é preto e branco, não dá para dar busca na internet, não dá para ver mapas, e mais uma pá de babaquices do gênero. Enfim, se é um leitor de e-books, para que alguém quer que ele funcione também para enviar e-mails? Afinal, os livros atuais em papel o fazem? Não, né? Para que o cara quer um GPS em um leitor de e-books??? Mas enfim, críticas à parte, eu adoraria ter um desse no Brasil, poder assinar a Folha de São Paulo e receber o jornal por ele, ao invés do material impresso – nada contra, porém as pilhas acumulam-se em casa, e o cachorro da vizinha ultimamente deve estar com prisão de ventre, pois sempre que eu ofereço jornal ela diz que ainda tem bastante!

Brincadeiras à parte, já imaginaram a vida dos pais de alunos que não precisariam mais comprar centenas de livros e apostilas para os pimpolhos no começo de cada ano? Bastaria simplesmente assinar o conteúdo de determinada editora e a mochila pesada da molecada ficaria leve como uma pluma, fazendo com que, ao invés de dezenas de livros, carregassem apenas um leitor de e-books e caderno ou fichário. Prático, não? As mães e os pais agradeceriam imenso, a criançada também, a natureza, idem, e os sebos inclusive, principalmente os que ainda teimam em trabalhar com material didático que no próximo ano não vai mais servir para a mesma escola, pois algum professor, sabe-se lá por que, irá exigir a edição mais atualizada de determinado livro, no qual a única diferença para a edição anterior será algum erro de português novo de uma revisão meia-boca ou algumas velhas figuras diagramadas de maneira diferente na página.

Isso seria uma saída ótima, pois temo o futuro dos sebos, de comércio a depositário de livros velhos apenas. Se hoje já vemos alguns livros ficarem parado por tanto tempo nas prateleiras, livros bons de literatura, com qualidade, tanto de escrita, como às vezes de tradução, feita por nomes importantes de nossa literatura nacional (como Rachel de Queiroz em Moby Dick, Morro dos Ventos Uivantes e tantos outros para a José Olympio, e as grandiosas traduções da Livraria do Globo de Porto Alegre, então?), que saem quando algum vovô ou vovó resolvem pedir para o neto procurar certos livros que os encantaram na juventude. Será que daqui a trinta, quarenta anos os futuros vovôs irão ter saudades de Harry Potter, Quem Mexeu no Meu Queijo, O Segredo, O Código Da Vinci e tantos outros sucessos instantâneos, como já foram Sidney Sheldon e outros no passado? Será Paulo Coelho o Gibran Khalil Gibran do futuro? Só o tempo dirá...

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, nunca se publicou tanto e infelizmente com o crescimento da indústria cultural,nunca se publicou tanta coisa ruim.Os editores loucos pela fatia maior do "bolo" acabam colocando no mercado editorial péssimos livros.
Porém, o maior problema ainda são os consumidores, que compram esse tipo de publicação.
Isso é de deixar Guimarães Rosa se virando no tumulo....rs