quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O bom, nunca vem sozinho...

Uma das satisfações de se trabalhar com livro é constatar que o que diziam velhos livreiros tem lá a sua verdade: "Todo livro tem seu dono". E na maioria cabe a nós, livreiros, realizarmos o casamento. Se bem sucedido, homem e objeto serão felizes para sempre, se acabar em divórcio provavelmente o livro voltará para a casa paterna, a estante da livraria.

Como todo livreiro tem um "quê" de alcoviteiro, tenho orgulho de algumas uniões realizadas. Desde aquela feita entre um afamado escritor, com livros publicados no Brasil e em Portugual, que de certa forma ajudei coletando obras a respeito do momento histórico que ele escrevia, até casamentos arranjados entre familiares e livreiro, que uniram velhinhos e velhinhas aos seus livros de infância, que suspiravam, ambos em cada canto do mundo, de saudades uns dos outros. Além dos livros de infância, tem os livros de juventude, estes regidos unanimemente por dois sucessos de público: "A filha do diretor do circo", que até mesmo a grande Zélia Gattai cita em seu "Anarquistas Graças a Deus", e o outro - na realidade são inúmeros -, todos aqueles escritos por M. Delly, na indefectível "Biblioteca das Moças". Até hoje há quem jure que se trata de Madame Delly, quando na verdade quem escrevia os açucarados romances era um casal de irmãos franceses.

Creio que não tem nada mais prazeiroso do que achar o livro que um cliente tanto quer, tanto faz se é para ele mesmo ler ou para dar de presente para alguém que procura a obra há anos.

Por outro lado...

Fiquei interessado no blog de uma das pessoas que entrou em contato comigo, fui curioso dar uma olhada no espaço do colega. Qual não foi minha surpresa ao ver lá um gif muito interessante. Curioso, entrei. Trata-se do site de uma campanha chamada "Eu sei escrever". Finalmente alguém resolveu se mobilizar de forma inteligente contra essa lingua que está sendo difundida pela internet, que alguns acham que é português... Vou aderir, quem sabe não acabo tomando coragem e crio a campanha "Eu sei ler". Daí, se bem sucedida, talvez não recebesse mais este tipo de pérolas pelo e-mail da livraria:

"o nome do livro é :"ILHA PERDIDA" de MARIA JOSÉ DUPRÉ eu quero o resumo do livro inteiro preciso estudar o livro e como eu sei q esse site é o melhor em resumos vou pedir a vcs preciso até o dia 20 de maio"

O rapaz nem sabe o que está falando, como assim "eu sei q esse site é o melhor em resumos"?!?!

"RESUMOS CRÔNICAS DE NÁRNIA URGENTE EM CASO DE VIDA OU MORTE"

Quem mais iria morrer além da língua portuguesa assassinada nessa frase?

Dá para escrever um livro só com pedidos esdrúxulos. Mas o troféu joinha do ano vai para a criatura que me pediu, encarecidamente, que eu passasse para ela a lista dos meus clientes, pois ela tinha acabado a faculdade e estava querendo vender os livros dela... é mole?!?!? O livreiro existe para isso, para fazer a ponte entre quem quer vender livros e quem quer comprar, se essa ponte desaparecer e o particular passar a ser comerciante, como já acontece em alguns portais de sebos, onde arrumaremos material para trabalhar? Sem contar o fato que em alguns portais, o particular não precisa pagar comissão e o livreiro precisa... o que tem de colega vendendo livro como particular.... Complicado, não?

Um comentário:

Pedro Dal Bó disse...

Realmente muito bacana essa idéia do "Eu sei escrever" e meu blog iria aderir com certeza o "Eu sei ler". Se quiser ajuda...

Parabéns novamente pelo blog.