terça-feira, 2 de junho de 2009

Guantánamo Boy - Poderia acontecer com você

Imagine que você é um jovem, ou um “jovem-adulto”, os seus pais te cansam, suas irmãs te irritam, você é a fim de uma garota da vizinhança e tem vergonha de chegar junto, adora ficar horas na frente do computador jogando e teclando com amigos próximos e parentes distantes, sua mãe acha que isso é uma enorme perda de tempo e você sempre tem que disfarçar na hora que ela levanta para beber água durante a noite. Um belo dia, seu pai resolve levar todos vocês para uma visita a suas tias, que moram no fim do mundo. Depois de alguns sorrisos constrangedores, de experimentar aquela compota de laranja mais amarga do que o inferno e conseguir, olimpicamente, não fazer careta ao sentir o travo na boca, você é confundido na rua com outra pessoa do lugarejo.

Já passaram por algumas dessas situações alguma vez?

Pois, é, mas garanto que não foram parar em Guatánamo, como ocorreu com Khalid, um jovem estudante de 15 anos, morador de Rochdale, uma cidade próxima a Manchester, na Inglaterra. Ao visitar suas tias, juntamente com seus pais, em Karachi, no Paquistão, Khalid é confundido com um membro da Al-Qaeda de 22 anos e acaba sendo levado para Guantánamo, base naval norte-americana localizada na Ilha de Cuba para onde, desde 2002, os Estados Unidos enviam os prisioneiros da “Guerra contra o Terror”.

“Puxa”, você deve estar pensando, “que idéia mais criativa!”. Mas não é... A autora do livro “Guantánamo Boy”, Anna Perera, teve a inspiração de escrever a história após ouvir de um advogado de Direitos Humanos que adolescentes eram mantidos prisioneiros em Guatánamo. O mais interessante de tudo é que o ex-presidente Bush, alegando que terrorista não é combatente inimigo e nem criminoso comum, criou uma realidade paralela na prisão americana: nem a Convenção de Genebra, nem o Direito Penal americano, nada para os terroristas, e nessa criou-se um limbo onde prisioneiros eram humilhados, torturados e submetidos a diversas privações enquanto Osama Bin Ladem continua desaparecido até hoje.

Como é nojento ver países do Terceiro Mundo curvarem-se perante a hegemonia norte-americana. Com essa história de que terroristas ou, na maioria, suspeitos de terrorismo não tinham direito algum, os cowboys da CIA e do FBI cavalgavam mundo afora impondo o que queriam às polícias e governos locais, e se eles não cooperassem logo seriam enquadrados como países pertencentes ao “Eixo do Mal”.

Não vou despejar aqui toda a minha cólera a respeito da política “umbiguista” norte-americana, mas deixo vocês com um pensamento de Dostoievsky, que, em “Os Irmãos Karamazov”, lança a questão de quão válido seria o renascimento da civilização construída sobre as lágrimas de uma só criança.

Título: Guantánamo Boy
Autor: Anna Perera
Tradução: Laura Alves e Aurélio Rebello
Editora: Agir
Páginas: 312p.
R$ 39,90


Resenha produzida para a e-Zone Online

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