"Você faz o seguinte: calcula 10% para o distribuidor, e de 50% a 60% para a livraria que vai vender", foi o que me disse um velho distribuidor de livros paulistano ao telefone na semana passada. Atônito, eu exclamei: "Mas o preço final do livro, desse modo, fica muito alto!". Mais atônito fiquei foi com a resposta: "O cliente que rebole para comprar"...
Graças a esse pensamento edificante temos mais sebos no Brasil do que livrarias de obras novas.
No começo de novembro, recebi um telefonema de uma grande livraria que tem sede em São Paulo e filiais no Brasil todo. Devido à grande procura do "Uma Festa Brasileira", me contataram para comercializar a obra. Queriam 50% do preço de capa. Eu disse que não era possível, o usual no mercado livreiro é 40% de comissão para compra da mercadoria e 30% para trabalhar consignado. Além do mais, a livraria queria um prazo de 60 dias para pagar os livros adquiridos em consignação. Não houve negócio. A mesma livraria, ou melhor, outros vendedores e compradores dela, voltaram a me ligar sistematicamente, sempre com a mesma proposta. Ou eles se fazem de idiotas para vencer pelo cansaço, ou o mito da grande livraria é somente um mito, pois não existe um comando centralizado e cada um, vendedor e comprador, faz o que quer.
No final de janeiro, uma das filiais dessa grande livraria me ligou. Queriam o livro; tinham interessados, óbvio, pois algumas matérias publicadas em revistas de companhias aéreas nacionais e internacionais ficaram a bordo de seus aviões por quase dois meses no período de férias e isso começou a significar mais pedidos do livro. Pois bem, essa filial chegou a um acordo razoável. Aceitava negociar a 40%, porém em consignação e com acerto em 60 dias. Bom, se eles se dobraram a comissão, eu me dobrei ao prazo, e assim, cada um cedendo um pouco, deu para fazer negócio, afinal negócio só é bom quando é para ambos os lados.
Mandamos cinco livros para a filial. Porte pago por nós... Provavelmente o acordo celebrado verbalmente gerou um cadastro da obra no sistema deles. Em fevereiro recebemos cerca de vinte pedidos, dessa vez não mais em consignação, e sim de compra, no mesmo patamar da negociação anterior, 40% de desconto e pagamento em 60 dias. Os livros foram entregues na sede paulista da livraria e redistribuído para as filiais... até que... alguém, dentro desse sistema verbal-administrativo-caótico, descobriu que aquela filial cometeu o terrível pecado de trabalhar com margem de 40% em um livro. Ligaram para lá, comeram a alma da compradora, ela me ligou e disse que as próximas compras não poderiam mais ser na base de 40%, e sim em 50%. Minha resposta: passe bem.
Se tem uma coisa que eu aprendi trabalhando com livros é que não se deve ter pressa de vender certos títulos. Alguns realmente quando pegamos jogamos preço baixo para não ficar ocupando lugar nas estantes, porém outros não: têm o preço certo, o cliente certo e o tempo certo de vendas. E, graças à competência da nossa editora e de todos os envolvidos no projeto desse livro, ele está tendo uma boa saída. Tão boa que nas próximas semanas alguns exemplares estarão chegando a Paris, onde serão comercializados pela Livraria Portuguesa. Outros irão para o estande brasileiro da Feira do Livro de Paris, e talvez, para a Feira do Livro de Frankfurt. Os europeus realmente sabem apreciar a cultura; aqui no Brasil, a cultura, alguma, não todas, só sabe apreciar o lucro que pode obter em cima dos outros.
sábado, 1 de março de 2008
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7 comentários:
então viva os Sebos!
http://www.estantevirtual.com.br/
Viva os sebos!
Vim aqui por indicação de um amigo. Ganhou mais uma leitora.
É interessante lembrar que o boom da pirataria de música e cinema começou por causa desse tipo de atitude.
O resultado é esse... as lojas de discos quebraram, as gravadoras quebraram e as pessoas decidiram que não pagam mais para ouvir música.
Os livros são muito caros, os sebos são uma saída, mas acho que só vai cair a ficha quando os livros também caírem nas mãos dos piratas... daí é só sentar e chorar!
Parabéns pelo blog!
Abs,
Drika
Gostaria de saber se posso copiar seu post no blog da minha companhia que fala sobre musicas, livros, tecnologia e etc...
ele seria publicado aqui: www.ezoneonline.com.br/blogez
Sou quase um bibliomaníaco. Digo, compro mais livro que consigo ler. E isso, no Brasil, é quase impossível. Morando na Itália há algum tempo, tempo percebido o quão mais barato é comprar cultura aqui.
Deveria haver no Brasil um política de incentivo a aquisição de livros. E, de preferência, de qualidade, e não só daqueles papéis reciclados 48 mil vezes, que faz a gente espirrar até a alma quando pega o livro pra ler. Esses, deveriam ser doados, e não vendidos.
abração!
É porisso que existem tantos analfabetos no Brasil,até mesmo nosso presidente, seus pais tinham que se "virar" prá comprar o feijãozinho.Óbvio não sobrava pros livros. Daqui há pouco os chineses quebram esta Máfia toda. e aí poder-se-á comprar livros nas lojas por l,99. EHHEHEHEHEHEEEEH!!!
Parabéns pelo seu Blog. Sua constatação no seu post "O admirável livro novo" infelizmente é a pura verdade. Nossa indigência cultural é muito grande; afeta quem não lê, quem não é lido e quem não pode ler. Os três segmentos desta cadeia são desestimulados. O primeiro não é seduzido, o segundo desencorajado por falta de realimentação da crítica mais oportuna que é a do leitor; produz bobagem para se envaidecer, ou então se desestimula. O terceiro, será sempre o mais afetado, mas vive da esperança, da biblioteca, do sebo, do empréstimo, do aluguel ou da internet.
Somos uma sociedade curiosa. Temos fartura para quem não necessita de alimento. Dieta de fome, para os desnutridos. Alimento desapetitoso para os anoréticos.
Diante de tanta adversidade programada, não carecemos de mais nada para compreender o nosso atraso ancestral. Deveria ser proibido falar de incentivo à cultura.
E as editoras prosseguem traduzindo e editando os "best sellers" e enlatados de alhures.
Peço-lhe permiss~~ao para publicar este seu texto no meu Blog : www.poesiaecompanhia.blogspot.com
Cordialmente,
Waldir Pedrosa Amorim
escritor e médico
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