Raridade, essa palavra é muito complicada. Para uns, livro raro é a 2ª edição das “Poesias Completas” do Machado de Assis com um erro ortográfico, onde a palavra “cegara” escrita pelo autor na apresentação da obra foi grafada errada, com um “a” no lugar do “e”. Mas para mim, raro é o que queremos e não conseguimos achar. Esse livro era uma dessas coisas difíceis de se achar por aí... o problema é que parece algum tipo de maldição, ao menos comigo: sempre quando quero muito o livro e finalmente ele aparece e eu tenho a chance de comprar, em questão de semanas novos exemplares surgem como que caídos do céu por acaso...
Mas eu estou enrolando muito neste post de hoje. O que eu queria falar mesmo é sobre o “84 Charing Cross Road”. Ele foi editado no Brasil com esse nome, mas é mais conhecido pelo nome do filme que saiu na década de 80 com a Anne Bancroft e o Anthony Hopkins: “Nunca te vi... sempre te amei”. Conta a relação entre uma escritora norte-americana, Helene Hanff, e um livreiro inglês, Frank Doel, que trabalhava em uma livraria antiquária em Londres, chamada Marks & CO., localizada no número 84 da rua Charing Cross.
O livro é a coletânea das cartas que foram escritas durante anos entre a escritora e o livreiro. Através de pedidos de livros, trocas de confidências, envios de presente, vai criando entre eles uma relação muito interessante.
Diz a lenda que as cartas foram descobertas em um sebo de Nova York pela atriz Anne Bancroft, que as teria achado guardadas dentro de um livro. Ela apaixonou-se pelo conteúdo das cartas e fez o seu marido, o diretor e produtor Mel Brooks, realizar o filme.
Cá com os meus botões, a história parece bonita e sei que pode ser verdade. Já encontrei tantas coisas dentro de livros que comprei de pessoas que estavam se desfazendo de bibliotecas que não lhes pertenciam, que tinham sido do avô ou do pai! Uma vez, dentro de uma coleçãozinha de missais romanos que comprei, veio um presente e tanto. A senhora que deveria tê-los possuído era da alta sociedade paulistana, e isso foi parar na mão de um bisneto, que não deu importância alguma. Dentro deles havia centenas de “santinhos” de falecimento de pessoas de alta posição em São Paulo, no início do século passado, como Dona Veridiana da Silva Prado, Paulo Prado, Barão de Duprat, entre outros. Além disso também tinha santinhos de primeira comunhão de diversos membros das famílias Monteiro de Barros, Prado, Penteado, Prates, Nioac, etc, mas bonito mesmo eram aqueles feitos na França, um mais lindo que o outro. Um deles abre-se inteiro montando um altar triplo, tendo Nossa Senhora no centro e outros dois santos nas laterais. Quem se desfaz desse tipo de coisa??? O mesmo tipo de pessoa que deve ter-se desfeito da biblioteca da autora Helene Hanff e nem viu que dentro de um dos livros tinha toda a correspondência, maravilhosa, entre ela e sua alma gêmea inglesa.
Um comentário:
É incrível como o valor das coisas é totalmente relativo.
Muitas vezes as pessoas se desfazem de certos pertences de parentes antigos sem nem ao menos pesquisar, saber a história do objeto.
Uma pena por que belas histórias de família ficam marcadas nesses objetos.
Belo texto.
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